Diário de uma surfista: Jasmim Avelino
12/04/2021
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Arte por @carol.fazarte
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Seja bem-vinda ao diário de uma surfista da Jasmim Avelino. Pensamos nesse modelo de entrevista como uma forma diferente de você conhecer a história de surfistas mulheres do Brasil (e porque não do mundo?) como mais uma forma de inspirar meninas a surfar. Afinal, inspiração é conexão, e eu tenho certeza que você vai se identificar com alguma coisa desse post.
Espero que goste e aproveite! Esse diário foi escrito pela Aline:
"Comecei falando um pouquinho de mim; não de uma maneira egocêntrica, mas porque eu queria era que a Jasmim tivesse o conforto de falar dela com alguém que se abriu também. Diário é um espaço pessoal, um espaço de intimidade, uma pontinha da mente do outro. E, para que a Jasmim abrisse uma frestinha desse lugar dela, eu quis fazer o mesmo - pelo menos em parte."
_carioca, bióloga e bicampeã brasileira de longboard
Essas são as palavras que definem Jasmim Avelino no instagram. Aprofundando um pouco, a jovem nascida e criada no Rio de Janeiro, acha difícil falar de si mesma, mas construiu uma boa definição: mulher incentivadora do surf e bióloga de alma.
A biologia foi sua escolha de graduação - sonho compartilhado com a mãe - mas, ao contrário do que você possa pensar, não era a biologia marinha que enchia seus olhos, e sim a ecologia, a mata atlântica, o cheiro de árvore.
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Surfista: Jasmim Avelino | Foto: @anacatarinaphoto
"Brinco que sou uma surfista do contra porque se eu tivesse que escolher entre praia e montanha, eu escolheria montanha - mas encomendaria uma piscina de ondas para sobreviver", diz ela.
Jasmim foi criada por pais que são, nas palavras dela, verdadeiros bichos do mato: "Nas férias nós viajamos para a serra, para acampar no meio do mato, curtir o clima de montanha", e é daí que vem a sensação de refúgio dela: uma menina que tinha a conexão com o mar na rotina, encontrava a renovação na água doce da cachoeira.
_sempre foi o long
Com pai e irmã surfando, Jasmim se pegou várias vezes observando da areia; às vezes até demais: "Confesso que no começo, quando eu era menor e eles me levavam para a praia todo fim de semana, eu não gostava tanto. Pelo menos não sempre, ficava cansada de fazer sempre a mesma coisa".
Na época, Jasmim dividia o coração com o teatro, arte que precisou abandonar quando se viu chegando aos ensaios com os pés cheios de areia e a pele salgada: o chamado para o surf estava forte demais.
Aos nove anos de idade, Jasmim Avelino ganhou uma prancha de bodyboard de presente do pai: "Eu sempre quis ir pro longboard, mas era muito magrinha e pequena, então meu pai quis que eu fizesse uma transição".
Aos 12 anos o presente veio em formato de pranchão; no ano seguinte ela começou a competir e nunca mais parou: "Tive épocas de ouro, por volta dos 15 anos estava com patrocínio e viajando o Brasil inteiro no circuito de surf".
A hora de ir para a faculdade chegou, o estágio e emprego em um escritório de advocacia ocupavam bastante o tempo de Jasmim e, neste momento de caos externo, ela encontrava no surf a paz interior: "Foi com isso tudo acontecendo que eu conquistei o título de longboard brasileiro de 2017; foi um resultado que veio de enxergar o surf como diversão".
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Jasmim Avelino no Jeri Long Festival
A graduação em biologia foi o fechamento de um ciclo que ainda pode se abrir - Jasmim disse ter interesse em mestrado e doutorado quando o auge do surf passar - e o início da fase em que a jovem carioca passou a viver do surf como professora; incentivadora de mulheres na água.
_mulheres na água
"Sempre sofri muito nos campeonatos - eu e todas as mulheres. Éramos desvalorizadas; tínhamos premiação inferior; as condições de mar para nós eram as piores; as baterias sempre em horário de almoço. Menosprezadas.
Desde que comecei a surfar já vivia o machismo na água. Um coroa já me mandou ir-para-aquele-lugar porque eu rabeei ele; já tentaram expulsar eu e minha irmã da água; sem contar a objetificação, olhando a bunda, reparando o biquíni.
Além disso, havia menos mulheres na água e o long era visto como prancha de transição para pranchinha, era gente que estava começando ou haole. Sofríamos preconceito automático. Não tínhamos marcas voltadas para o nosso estilo de surf, roupas feitas para o nosso conforto.
De dez anos para cá deu para ver a evolução da presença das mulheres no mar; mas a caminhada é longa.
Eu sempre falo com as minhas alunas que a gente precisa saber se posicionar, precisa enxergar nosso direito de estar ali, naquele ambiente, saber se portar e poder abrir a boca se algo acontecer".
_com vocês, as Bailarinas do Mar
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Foto do Bailarinas do Mar em Pipa
Dar aulas de surf fez com que Jasmim visse mais de pertinho a situação das mulheres que querem aprender a surfar e se manter no longboard. "Eu via meninas que se decepcionavam com o surf, chegavam a largar porque diminuíam muito as pranchas - algo que é incentivado nas escolinhas -, não se adaptavam e perdiam a diversão da atividade. O Bailarinas deu esse apoio; deu força para muitas meninas que tinham interesse, mas não tinham ninguém para mostrar para elas o quando o long é envolvente".
O projeto, que durante a primeira trip ainda não tinha nome, nasceu do desejo de Jasmim Avelino de levar mulheres para surfar, incentivar mulheres a surfar de long e sentirem essa paixão da maneira mais genuína possível. "O long expressa quem eu sou, me acalma, me conecta, é o que reflete minha personalidade. É preciso ter muito controle do que está fazendo e ao mesmo tempo deixar fluir". E ela deixa (já viu essa mulher surfando?)
Em busca de um nome que as próprias integrantes tomassem para si, Jasmim refletiu sobre o que as pessoas falavam dela quando a viam na água:
"Falavam que eu parecia uma bailarina; e isso tem tudo a ver com o surf feminino de longboard".
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Bailarinas do Mar | Foto: @victordutraphotos
Hoje o grupo já tem tomado grandes dimensões, tanto como uma comunidade quanto como realização pessoal da carioca: "Hoje eu sou muito mais realizada tendo o Bailarinas do que sendo bi campeã brasileira porque eu vejo o quanto essas meninas compartilham a verdadeira essência do surf, com alma, com prazer das realizações. Isso me deixa muito feliz".
_um pouco da rotina e do que Jasmim Avelino planeja para o futuro
"Meu cotidiano - sem viajar - é dar aulas todos os dias, das 6h às 11h. Quando tenho forças, eu surfo um pouco depois disso, ou quando alguém falta. À tarde eu me organizo, faço planilha, planejo ações para o Bailarinas, possíveis viagens e novos projetos. A pandemia fez todo mundo repensar a rotina - e muito mais - então planejar uma viagem é algo bem mais delicado."
Além dos trabalhos, a surfista faz ginástica natural todos os dias - online com um coach - e diz que se falta um dia já sente o corpo pedindo: "É uma prática que envolve exercícios animais, da bio ginástica, mistura diversas modalidades; é um exercício completo que me ajuda a fortalecer dentro da água".
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Surfista: Jasmim Avelino | Foto: @fellipeditadi
Sobre o futuro: considerando um cenário pós-pandemia, o que ela quer é focar no Bailarinas, em levar as meninas para lugares diferentes, para explorarem ondas que são favoráveis ao long.
"Hoje eu não me vejo como surfista profissional; acho que o surf é muito além do que se definir como profissional ou não. Eu incentivo mulheres a viverem seus sonhos e fazerem o que quiserem. Digo a elas que são capazes independentes de qualquer circunstância.
Sinto que sou realizadora de sonhos; me vejo muito mais como mulher que exerce a profissão de ensinar o surf do que quem vive do surf profissionalmente".
Se você ainda não conhece o Bailarinas do Mar, sugiro fortemente que dê uma pesquisada no instagram e prepare-se para ficar hipnotizada pela graciosidade destas dançarinas na água - e provavelmente para se pegar querendo se aventurar no long :)
Beijos e boas ondas,
Aline
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